Nossos filhos.

Uma batida insistente na porta do banheiro me fez sair do quarto às


pressas pra ver o que estava acontecendo.

Chegando lá vejo algo inusitado, minha filha Jane com uns seis aninhos

na época, tinha prendido a empregada no banheiro trancando a porta por

fora com o fecho.

Ai escutei –Abre a porta menina!!!

E minha filha respondendo: -Quem é?

-Sou eu, como quem é?

-E o que vc quer?

-O que está acontecendo gente, perguntei?

-Sr. Enrique sua filha me trancou aqui dentro do banheiro!

E a Jane insistindo,

-Se vc não falar quem é não vou abrir!

-Chega de brincadeira filha, abre essa porta, eu lhe disse.

Coitada a moça era muito boazinha, só que sofria na mão da impiedosa Jane.

Tinha que agüentar as jericadas e o gênio esquisito dela, que não sei

de quem puxou.

Chegando o fim do ano a levamos conosco para conhecer Uruguai.



Em dezembro toda aquela correria, bota mala no carro, leva o cachorro

pra vizinha e lá nós partia em nosso Dodge Magnum para fazer nossos

dois mil e duzentos kilômetros.

Porque naquela época carros de quatro cilindros eram muito fracos para viajar.

Não tinha ignição eletrônica, eram poucos cavalos de força.

Aliás nem cavalos deveriam ter, só burros, pois eram muito lerdos.



Lembro na estrada a mesma Jane, pediu para parar o carro que queria ir

ao banheiro.

Eu lhe disse que não poderíamos parar nesse momento, que esperasse

chegarmos num posto com restaurante, que seria ideal.

Bem, nalguns minutos chegamos lá e disse agora sim, podes descer.

Ai ela respondeu muito brava: -Não quero mais, agora já passou a vontade!!

Eu nunca vi passar a vontade sozinha, até hoje me pergunto mas como???

E ai fomos embora, ninguém quis descer do carro.



Menina geniosa, em fim era até divertida com suas ocorrências.



Hoje em dia, as viagens já eram.

Os carros , já foram

As crianças cresceram e cuidam dos seus próprios filhos.

O tempo passou, sim e como passou rápido.



Só que não está todo perdido, me contento hoje em dia de ver a missão cumprida.

Fico em casa, recebi a sogra hoje para almoçar com maior prazer.

Depois quando sozinhos, nós dois contamos as anedotas, rimos do que

foi e rimos muito mais do que poderia ter sido e não foi.

Acho que temos algo em comum, a nossa pródiga imaginação.

Ligamos o som no último volume e com nossa gigantesca caixa escutamos

Rock Metal.

Ai tudo vibra, as contas de luz despencam da estante, os velhos fecham

as janelas, os meninos dos vizinhos nos acompanham no ritmo imitando

guitarras pois eles adoram.

YEAH!!!!! É a vida acontecendo, que continua sim nas suas etéreas vibrações!!!






Pois é, poucas coisas ficam junto da gente depois de algum tempo.

Uma delas são os amigos.

E devemos cuida-los e trata-los bem.

São como plantas, que se não as regamos, morrem.

E o melhor, são incondicionais, poderemos guarda-los até o fim de nossos dias.