Vida de moto boy


Vida de motoboy
Considera-se os moto boy a escoria da sociedade. Por causas comuns, simplistas, força do destino ou da necessidade que obriga um cidadão comum assumir uma atividade altamente discriminada. Por vezes, pessoas cultas, formadas, alheias à essa profissão devem assumir por força maior se sujeitar a esta cruel atividade. Quem trilha este caminho sabe dos perigos, das humilhações e injustiças que esta profissão oferece.
Sou um dos casos, formado em arquitetura, com firma de comunicação visual, fui obrigado pelas circunstancias atuais, da carência de serviço, a comprar uma motoca nova e sair a batalhar.
Descobri muitas coisas, que sou bom nisso, ando junto com os melhores, estou gostando mesmo. A solidariedade que se encontra nesse grupo é fora de série. Não tem como não parar num farol sem que alguém te peça ou te de uma informação necessária.
Pode ser o dia mais triste de sua vida, tua mulher te chifrou, recebeste a visita da sogra no final de semana, o teu cachorro te mordeu, não importa, sempre encontrarás um motoqueiro te cumprimentando ou te oferecendo auxílio nas esquinas. Um comentário oportuno, um conselho válido, em fim, você nunca estará sozinho no seu sofrimento. Dizem as estatísticas que morre um motoqueiro e meio por dia. Agora vejo isto como uma grave fatalidade.
Seriam necessárias campanhas educativas para o comportamento veículos em geral versus motos. Muitos pensam que o moto boy é aquele ser desprezível que vêm para destruir com o pezão o teu espelho retrovisor. Bem, não são todos os espelhos as possíveis vítimas, e sim aqueles que estão sobrando.
São muitos nas ruas, eles se incomodam entre sim também. Tem pequenas e graves colisões. Claro que sempre prevalece o espírito corporativo, a compreensão perante algum pequeno erro cometido. A classe não se condena a si própria, se complementa, se ajuda.
As dificuldades são as mais diversas, falta de segurança, falta de seguro sobre o veículo, ganho miserável, vitima das inclemências do tempo, da poluição ambiental, dos patrões exigentes que obrigam a “correr” o dia todo.
Compromissos de horário, contratos que roda muito e ganha pouco, falta de objetivo em tudo isso, que no fim não leva a nada. Com o que se ganha não se compra nada e se perde um tempo precioso em fazer outra coisa na vida, como estudar. Ou seja, uma profissão com presente, pois da para comer, mas sem futuro, não da para progredir, ser transferido, ser reconhecido, ganhar mais, subir de cargo, em fim nada, a não ser ficar velho e continuar pilotando essas máquinas malucas. Existem seres engraçados, os chamados “cachorros loucos”, que correm enlouquecidos o dia inteiro, desprezando a vida, transformando a atividade numa doida aventura, com a esperança de faturar uns trocados a mais por dia. Ignoram isto sim, que eles são as primeiras vítimas, pelo desgaste físico, emocional e da suas máquinas.
O diabo fica ansioso de ver a forma que eles desprezam a vida.
Bem, o perigo existe em toda esquina, com chuva o sol. Somos vítimas do descuido alheio, levando a pior parte em qualquer confronto. Pagamos caro, até com a vida uma pequena distração de um motorista de carro ou caminhão.
Não reclamamos do nosso infortúnio, parece que estamos resignados, calejados de levar desvantagem sempre. A maior satisfação é correr velozmente nos corredores formados por veículos nos dias que está o transito todo parado. Parece uma verdadeira vitória passar todo mundo que está parado e nós correndo velozmente no meio deles.
Existem diversos tipos de moto boy, aqueles que trabalham por serviço e precisam correr o dia inteiro, aqueles que ganham por hora e precisam que o tempo passe para ganhar algum, não tem pressa. Os novatos, que tem medo de entrar nos “corredores”, pois ainda não tem prática de andar disparados no meio do aperto, os motociclistas que se misturam aos moto boy mas sempre com as suas máquinas enormes, possantes. Alguns parecem vindos de filmes do futuro, com os braços para cima naqueles guidões gigantes. Esses devem dirigir na velocidade dos carros, sem chance de ultrapassar no transito da cidade. Só se destacam na estrada.
Agora, a consciência de sua própria vulnerabilidade acerca mais estes seres incríveis. Loucos por desprezarem a vida a troco de nada. Só a aventura é que vale. Vi senhores de cabelo branco, achacados pela idade, já não correm tanto, mas continuam firmes nas ruas de São Paulo. Da pena de ver que não tem outra alternativa na vida a não ser essa, a única forma de sustento que eles conhecem e assim continuam até quando Deus quiser.
Peço encarecida mente aos leitores, aos motoristas de veículos como carros, ônibus, caminhões, que tenham consideração com os motoqueiros. Um espelho quebrado não é nada comparado com uma vida. Aliás, acima de duas rodas sempre existe uma vida.
Não sejam injustos, ceda o passo, a gente corre para servir a sociedade, arriscando a vida a troco de nada. Não custa ser gentis, pelo menos para nossa segurança e a vossa própria, pois, quem deseja se envolver num acidente às vezes fatal com um motoqueiro? Como fica a consciência? O dia de trabalho?
A despesa toda? Não é melhor evitar? Mesmo às vezes levando algum xingo ou ofensa?
Se dei um passo à frente no intuito de melhorar a vida de muitas pessoas, então estou realizado em minha intenção. Cumpri o meu dever cívico que é a melhora da sociedade como um todo.
Salve os motos boy!
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