"Histórias"

O relato a seguir, é uma homenagem que presto para alguns seres incríveis.
Estão baseados na mais pura realidade, quem viveu lá nessa época pode confirma-los.
Algo pode ter sido omitido por esquecimento, mas nada foi acrescentado.

Era por volta de 1960, num bairro de Montevidéu, existia um grupo de moços, 25 a 30 anos, que viviam sempre num bar da esquina do Ombú.
Grupo muito unido, todos pela mesma profissão, "cafetões"
Nem se sabe quem tinha mais mulheres, mas eram varias para cada um.
Uma constante era aparecerem com as poderosas motocicletas Matchles, Norton ou Triumph 500 cilindradas.
Vocês podem achar que eram uns vagabundos, só que para o conceito em geral do bairro, não era bem assim. Para a maioria e parte da população, eles eram os homens valentes, destemidos. Enfrentavam no braço a quem quiser e não perdiam uma briga.

Eram muitas as aventuras vividas pelos "machões". Assuntos simples, eles se apresentavam como penetras em alguma festa que não eram convidados e ali permaneciam calmamente até que os proprietários se manifestavam em contra. Ajuntavam-se vários homens e tentavam por pra fora a "turma" dos não convidados. Primeiro nas palavras, depois na força. Para quê!!! Os três ou quatro valentes davam conta de toda a multidão. Eram crescidos na briga e na confusão. Tínhamos o Baby Caracciolo, o Pocholo e o Félix.
Os três tinham o tipo do Alexandre Frota, fortes, musculosos, sarados e valentões.
Também acrescento, nunca tiveram casos de desvios, problemas com mundanas, libidinagem ou coisa parecida. Naquela época não era coisa de homem posar nu ou se envolver em escândalos sexuais.
Na hora da briga o Baby ficava de costas para o Pocholo e aí era pau que comia, ninguém chegava perto e era cara tombando para todo lado. O mais interessante desta verídica história, é que nunca se ouviu falar em armas, nem de fogo nem brancas nem coloridas. Todas as questões eram resolvidas no muque, no braço.
Sempre existiu muita honra entre agressores e agredidos. Podiam quebrar mesas e cadeiras. Armas não eram apontadas por ninguém. O mesmo acontecia no trânsito, muitos conflitos, batidas, brigas mas, nunca nenhum tipo de arma apareceu.
A explicação de nossa admiração, de nosso bairro em geral era pelo seguinte:
Eles eram padrinhos do time de basquete Miramar. Em todas as partidas estavam presentes. Por mais está dizer que ganhavam sempre. A faixa de "Campeão" não saía da porta do clube na rua 4 de Julho. Se o jogo fosse mal, aí entrava a pressão da torcida, alguns queixos quebrados e no fim o time adversário afrouxava. Se os outros ganhassem, sabião o que lhes esperava na saída.
O resultado era nas cestas, não interessava se ouve ou não pressão.
A fama corria por toda a cidade, ninguém falava mal deles, eram simplesmente Os Valentões.
A mãe do Baby, a Loba, tinha sim alguma atividade presumivelmente ilícita, diziam que era falsificadora de documentos.
Às vezes que foram enviados alguns policiais a casa deles para tentar dete-los, ele ou a mãe dele, contam que saíram no braço e os policiais levaram a maior zurra. Não existia o costume como aqui em Brasil de policiais apresentarem armas por qualquer motivo. Prevalecia sim a força física. Nesse tipo de ocorrências, para suspeitos de desordem ou falsificação não se acostumava apresentar armas. Só em casos graves, como crimes de morte. O fato era que esse tipo de crime era difícil de acontecer na cidade. Latrocínios, assalto a mão armada, nunca se ouvia falar. Por esse motivo que não se utilizava quase às armas. Contavam que os policiais voltavam a delegacia e explicavam ao delegado que não foi possível deter o infrator, que ele simplesmente se negou à prisão.
E quem a mão limpa tinha coragem de enfrentá-lo? Quatro o seis policial não era suficiente para dominar a fera.
A delegacia do bairro não dispunha de mais elementos para mandar.
Cidade pequena é assim, existe truculência mas, não mediante armas e sim a força física.
Eu, como vizinho e não participante dessas histórias, sentia mistura de medo, respeito e admiração ao passar por eles.
Limitava-me a um simples -Hola! que me era retribuído, em paz.
Quem não poderia sentir admiração por esses caras? Os comentários corriam soltos, toda semana casos de desafios, brigas, confusões aonde sempre tinham os mesmos resultados. Nossos valentes do bairro triunfavam sempre frente a outras torcidas.
Muitas brigas se intensificaram por causa do time de basquete, muitos participantes eram chamados para defender a honra do time contrário. Mas nossos valentes, que também tinham sua turma grande e brava, davam o maior castigo a quem quisesse enfrentá-los. A defesa de nosso time Miramar, querido e admirado por todo o bairro fez desses campeões da confusão uns ídolos imbatíveis, queridos e admirados. Não interessava tanto o meio de vida deles, seus vícios ou costumes. Na porta do bar, o Mundial, a "barra" ficava à toa dia inteiro, jogando bilhar, apostando cuspidas, a ver quem conseguia ir mais longe, apostavam números de placa dos veículos que apareciam na esquina. Em fim, o nada para fazer era uma constante.
Nunca incomodaram nenhum vizinho e diga-se de passo, as drogas não existiam nessa época e nesse lugar.
Eu com vinte anos nunca tinha ouvido falar da marihuana ou outras coisas.
Aliás, ouvi falar com 26 anos aqui em S.Paulo. Bem, a população daqui é 60 vezes maior e tudo acontece mais rapidamente.
Na realidade, todo mundo gosta de heróis, de super-homens. Os americanos adoram Mike Tyson, mesmo que já respondeu vários processos e foi um delinquente juvenil.
As pessoas são induzidas a admirar àqueles que são um potentado de força, coragem, e valentia.
Pode ser que foram homens do bem ou do mal, mesmo assim serão sempre nossos heróis.